Onde está Deus?
Sou um homem de fé, amante da
natureza e seus atributos. Sempre concebi Deus como tudo que existe. Acredito
que todo tipo de vida está relacionado não só em nosso planeta e no presente,
como em toda a extensão do universo e linhas temporais possíveis. Vejo Deus, a
providência, o milagre, como uma energia, poderosa e infinita, que estabelece uma
analogia entre todo tempo/espaço e é responsável por impulsionar as ações e
promover reações entre os vivos, os mortos, até mesmo os que não se comunicam
por gestos ou palavras, mas são organismos lúcidos e vitais, como nossa Terra. Não
sei ao certo quando adotei essa perspectiva... Porém, por mais que este
pensamento fosse antigo e definitivo, há algum tempo atrás tinha deixado de
refletir sobre a natureza e os mistérios da existência, esquecendo-me até mesmo
de me apegar a fé em inúmeros momentos de fraqueza e dificuldade. Foi então que
em Setembro de 2011 tive uma grata surpresa...
O filme “A Árvore da Vida” ganhou
a Palma de Ouro em Cannes ano passado. Eu já tinha ciência disso desde a
premiação em Maio. Como em todos os anos, já estava curioso para assistir o
grande vencedor desse prêmio tão nobre. Em Juiz de Fora, onde eu ia ao cinema
quando ainda morava em Minas Gerais, os filmes de arte sempre chegam atrasados
ou nem chegam. O que é lamentável... Para uma cidade tão empinada, que se
intitula como Manchester Mineira, é vergonhoso constatar que há tempos a
cultura do cinema permanece engessada. Enfim, “A Árvore da Vida” teve sua
estreia quase ao fim do ano passado e fui assistir, aliviado por não ter
perdido a chance de ver em tela grande.
Agora o discurso se encaixa. Em
síntese o filme se trata de uma epifania. Um homem, Jack O’Brien, ao despertar
no dia do aniversário de morte do irmão mais novo e a partir de então seguir
sua rotina cotidiana, começa a refletir e a se questionar sobre o paradeiro de
Deus, buscando na memória, imaginação e conhecimento uma possível resposta.
Somos transportados ao passado desse homem. Acolhemos sua vida desde antes do
nascimento. Em narração ele pondera a infância, as incertezas, os conflitos...
Mas, sobretudo, entre tantos momentos de alegria e de dor, ele indaga onde
estava Deus e como, nas inúmeras faces da vida, ele era capaz de transmitir o
amor e o conforto ao mesmo tempo em que traz o sofrimento, a morte, a perda, a
saudade, a destruição.
Contemplar essa obra me fez
compreender e reacender, com o ineditismo da imagem, o que há muito já estava
enraizado em meu interior, mas havia adormecido. No filme, a personagem da mãe
aponta para o céu e diz “É lá que Deus mora”. Então temos, fascinante e
assombrosa, a visão do universo. As estrelas distantes, as nuvens de poeira de
infinitas cores, o Sol se rompendo em chamas, o alvorecer visto do topo da
atmosfera. Vemos a arquitetura dos homens, as formas sinuosas dos cânions, a
violência do fogo e das águas. Um mundo em formação visto pela perspectiva
microscópica das células, unindo-se, transformando-se. A vida manifestando-se
nas águas, na terra, no ar. Um raciocínio que nos conduz ao tempo remoto dos
dinossauros e nos mostra que, mesmo então, o entendimento entre os semelhantes,
a compaixão e a fatalidade providencial já existiam. Assistimos, por fim, a
derrocada dos grandes répteis, ao presenciarmos a queda do grande meteoro na
Terra que, neste dia, despertou com a mesma tranquilidade de todos os outros
dias e, no entanto, sem o menor aviso, foi condicionada à mudança.
Tudo isso nos propõe a percepção
da igualdade das formas. Os mesmos padrões no espaço, nas folhas de uma planta,
no nosso DNA, na estrutura de uma igreja, evidenciando a relação entre toda a
vida e o poder da construção e destruição. Guardo um livro das Testemunhas de
Jeová há muitos anos, pois gosto das ilustrações. Nele há o seguinte pensamento
“Se uma bela casa tem um arquiteto, que a projetou, o universo, que é perfeito,
também tem um arquiteto”. Se somos frutos de uma criação da natureza e talvez
não os mais inteligentes, porém os de maior raciocínio, herdamos dessa mesma
natureza o dom de projetar e desconsiderar, aniquilar. Do mesmo jeito que as
formas físicas estão relacionadas, a ideia do princípio e fim também se aplica
a tudo. Como a vida é uma dádiva natural, a morte é uma dádiva de igual
prestígio. Tudo tem um ciclo. Nem sempre é justificado para nós, como a morte
de alguém próximo ou a extinção de toda uma espécie. Porém é um fato que nada é
eterno enquanto vive, senão a natureza, a Força, Deus e seus métodos. O que,
por outro lado, nos torna imortais, pois somos parte dessa natureza. A mãe de
“A Árvore da Vida” aponta para o céu, mas Deus é o Universo inteiro. A natureza
de tudo está no todo. A Terra é parte desse Universo, somos frutos da Terra,
temos os padrões da vida ao nosso redor e dentro de nós. Somos também criadores
e destruidores, provocamos alegria e dor. Portanto, aprendemos a lição que de
nada servirá se buscarmos a Deus lá fora e nos esquecermos de olhar pra dentro
de nós mesmos.
2001: O MISTÉRIO DA EVOLUÇÃO NA
ODISSEIA DE KUBRICK
Muito antes de Sean Penn encarnar
os questionamentos de Jack O’Brien, o ator Keir Dullea foi lançado ao espaço
com o semelhante propósito de encontrar a Deus e obter as respostas para os
mistérios da vida. A aventura se trata da mais bela e revisitada
ficção-científica do cinema, “2001: Uma Odisseia no Espaço”. Vejo essa fantasia
espacial como o trabalho mais esmerado do diretor Stanley Kubrick. Seu
raciocínio favorece diálogos com filmes posteriores, não só no modo de conduzir
a perspectiva da ficção no espaço, mas traçando paralelos entre as produções
pela abordagem da inquietação humana frente suas origens.
Num primeiro momento, a narrativa
acompanha a jornada de homens primitivos. A princípio, a comunidade apresenta
um comportamento homogêneo. Temos então a primeira amostra da Providência. Um monólito
retangular surge e desaparece para um grupo específico de hominídeos. Em pouco
tempo, estes seres começam a adotar posturas diferentes dos demais, como
perceber que o domínio do fogo é um diferencial para a espécie. O mais
importante é a forma encontrada por Kubrick para representar o primeiro
raciocínio legitimamente humano, que fundamenta magistralmente não só a lógica
de “2001”, como também de toda a filmografia do diretor. Um dos hominídeos
brinca com a ossada de um animal. Ele pega um osso e começa a bater em outros
ossos. Usando de mais força, ele bate seu osso no crânio, que se parte. É neste
momento que encontramos a chave. O hominídeo percebe a capacidade de destruição
daquele objeto, percebe que é possível ferir, concebe a primeira arma. Feita a
descoberta, ele usa seu osso letal para afugentar outros grupos, causar pânico
entre os que estão abaixo da sua capacidade de compreensão, ele mata seu
semelhante gratuitamente. Eis o motor da evolução... A violência. A cultura da
violência, dominação e extermínio.
Numa sequência histórica, na qual
o osso girando no ar dá lugar a uma espaçonave, a narrativa salta para o
futuro. Ao retratar esse 2001, Kubrick foi muito bem sucedido ao antecipar na
ficção inúmeras tecnologias que de fato surgiram. Mas o foco dessa realidade é
a descoberta de um monólito, idêntico ao visto pelos hominídeos, cravado na
superfície da Lua. O objeto emana um sinal para um ponto longínquo no espaço, o
que aguça a curiosidade e ambição dos cientistas envolvidos na descoberta,
supondo que essa frequência sirva de conexão entre os homens e um ser evoluído
que detenha respostas às questões mais enigmáticas.
Algum tempo depois, os
astronautas Frank e Dave são enviados ao ponto onde estaria o receptor do
sinal. A bordo da Discovery, eles contam com o auxílio de HAL 9000, um
supercomputador infalível desenvolvido para comandar os sistemas cibernéticos
da nave, capaz também de identificar e decifrar as emoções dos tripulantes para
oferecer-lhes conforto, uma companhia agradável, como se tratasse de um ser
racional e não programado. HAL gaba-se por isso e compreende muito mais do que
aparenta saber sobre a missão. O timbre impassível adotado por Douglas Rain,
que dá voz ao computador, confere um ar sinistro, causa desconforto e
desconfiança sobre as intenções do mecanismo. “Hello, Dave”. É inquietante o
cinismo de HAL ao saudar os tripulantes. Frank, o primeiro a perceber que há
algo de errado com HAL e um mistério ainda maior acerca da missão, é logo
eliminado, lançado ao espaço, por determinação do supercomputador.
HAL é obstinado. Foi programado
para ser perfeito, superior, inclusive, ao raciocínio humano. O que acontece
quando algo tão perfeito toma consciência disso? É novamente o hominídeo
quebrando o crânio pela primeira vez. HAL sabe que é melhor, que tem o
potencial necessário para alcançar o objetivo da missão. O computador enxerga
com dados, vê com clareza, despido do sentimento, não titubeia entre o certo e
errado, apenas cumpre seu papel. Quando isso significou eliminar os
tripulantes, ele não se conteve e até sentiu prazer. O conhecimento programado,
a máquina perfeita... Cain e Abel no espaço. Semente plantada na origem deste
ser. De fato o primeiro computador, por exemplo, chamava-se ENIAC. Temos o nome
Cain se lermos ao contrário. Assim como os computadores domésticos, que
acabaram por domesticar o homem, foram popularizados pela Apple (maçã em
inglês), o fruto proibido de nossa era. E também como a sigla HAL, são as
letras que precedem IBM, outro gênero de computador pessoal popular no período
de surgimento dessa espécie. Em “2001”, assim como nosso presente factual,
fomos escravizados pela máquina. Os olhos virtuais estão por toda parte, estudando
nossos métodos, nossos medos, nossas falhas. Se essa relação com os signos do
Gênese é mera coincidência, não sei. Mas na espaçonave Discovery, HAL tomou
consciência de que era melhor e merecedor de ser o verdadeiro gênio daquela
missão.
Dave, o astronauta sobrevivente,
arduamente vence a batalha contra HAL. Mas é preciso ressaltar que talvez, aos
olhos do espectador comum, o computador fosse o inimigo e os astronautas os
heróis humanos e óbvios. Dave se livra de HAL, mas o faz por egoísmo. Pelo medo
da certeza de ser dominado, derrotado. No princípio, enquanto a máquina apenas
servia, tudo estava ótimo. O computador é a criação humana, mas este humano o
enxerga apenas como um escravo das suas necessidades, inclusive afetivas. HAL
driblou as falhas humanas e concentrou-se no objetivo da jornada. A certeza de
ter se tornado obsoleto foi o que motivou Dave a desativá-lo, acima de tudo. O
homem agiu pelo instinto, mas perdeu o propósito.
A Discovery finalmente chega ao
destino. Outro monólito percorre o espaço. De que forma então encontrar as
respostas tão aguardadas? Não há forma. O mistério da vida é sólido e obscuro.
Mas a história da vida possui um mote transparente. Como o raciocínio alcançado
em “A Árvore da Vida”, temos em “2001” uma única certeza de que tudo preenche
um ciclo. Tem hora para começar e terminar. Podemos passar a eternidade
possível tentando alcançar as respostas mais difíceis, mas continuaremos
encarando o monólito. A certeza da vida é a certeza da morte e nada mais. Os
ciclos são irreversíveis. Desde o período de vida de uma pessoa à duração de
uma espécie e seu domínio sobre as outras. Se o tão buscado Deus não nos dá a
resposta para a origem, ele nos diz muito sobre o fim. Uma espécie é extinta
por estar obsoleta, por não contribuir mais para o bom funcionamento da vida,
do bem e do mal. A humanidade se extinguirá por não se adaptar mais, por ter se
tornado o verdadeiro virtual e agir não pelo desejo, mas pelo medo. Se o homem
vê o direito de aniquilar, por considerar inadequado, tudo aquilo que ele mesmo
possui ou criou, por que Deus, sua matriz, não pensaria o mesmo?
ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?
Embora os alienígenas tenham
ganhado inúmeras representações no cinema, a palavra alien nos remete a um gênero específico. Para quem teve o mínimo de
intimidade com esse ícone da ficção-científica, não será difícil visualizar o
ser preto de pele escamosa e úmida, cabeça cônica, uma cauda enorme e inúmeras
bocas. Meu raciocínio agora alcança o universo futurístico de Ridley Scott.
Um dos diretores mais versáteis
de Hollywood, Scott foi um dos responsáveis por modelar e ditar os temas mais recorrentes
da ficção-científica ao final do século passado. Neste ano, ele retornou ao
gênero com o longa “Prometheus”, firmando conexões com dois de seus trabalhos
anteriores, “Alien” e “Blade Runner”. Assistir ao filme há uns dias foi o que
me motivou a toda essa análise e reflexão. A nova jornada espacial também é um
paralelo lógico ao conceito de “2001”. Mas antes da novidade, farei uma breve
instrução sobre o futuro preconcebido nas obras-primas de Scott.
ALIEN (1979). No futuro distante,
a Nostromo, espaçonave de mineradores a serviço da Companhia, capta uma
mensagem criptografada vinda de um planeta extremamente distante de nossa
galáxia. Os tripulantes estão hibernados, mas o sistema da nave redireciona a
rota para a origem do sinal. Como evidenciado inúmeras vezes ao longo do filme,
a Companhia exige de seus funcionários no espaço que investiguem e reportem
qualquer evidência de vida extraterrestre. Além disso, poderia se tratar de um
pedido de socorro. Aproximando-se do planeta, os tripulantes são despertados e
tomam conhecimento do fato. Um destacamento vai à superfície e descobre uma
espaçonave de origem desconhecida. No interior encontram o capitão extraterrestre,
mas está morto e fossilizado. Neste momento, a bordo da Nostromo, a comandante
Ripley identifica a mensagem como um alerta para que não se aproximem. Porém,
já era tarde. O tripulante Kane se aventura por outras seções da nave e se
depara com uma infinidade de ovos alienígenas. Como fruto de sua curiosidade,
Kane é atacado por uma das criaturas, que irrompe de um ovo e, expandindo uma
ventosa, se prende à boca dele.
Contrário a opinião dos
tripulantes que permaneceram na nave, em especial a determinada Ripley, Kane é
levado pelos colegas diretamente à enfermaria, sem passar pelo período de
quarentena. Ash, o cientista do grupo, demonstra enorme interesse pela
criatura, sua estrutura genética, o comensalismo. O ser acaba por se desprender
de Kane e morrer. Por todo o tempo, o tripulante só foi mantido vivo pela
criatura por que, na realidade, estava sendo fecundado. Pois quando tudo já parecia
normalizado, Kane é acometido por dores abdominais e em seguida dá à luz ao
Alien, pequenino, porém letal.
A narrativa é dominada pelo
horror. Com direito a perseguições, raptos, momentos de suspense intenso. Mas
para nossa reflexão o mais importante é focar em Ash, o cientista, que se
revela um androide. Fabricado pela Companhia, e inserido na expedição no último
momento, ele já parecia estar ciente do que iam encontrar naquele planeta. Conservou
o Alien e o genitor enquanto pôde, considerando-os criaturas perfeitas. Quando
questionado por Ripley sobre essa opinião, Ash responde que este Alien sem
dúvidas é superior ao ser humano, não só pela incrível estrutura genética, mas
por ser um sobrevivente nato, um guerreiro determinado, muito além da noção
precária e o falso exercício da moral humana.
BLADE RUNNER (1982). Os androides,
ou replicantes, começaram a questionar sua servidão aos homens. Rebelados
contra o colonialismo humano, eles tentam se livrar do caráter de objeto para
viverem de acordo com seus próprios propósitos. A humanidade, encurralada pelo
medo do domínio, decide se livrar dos replicantes, subestimando sua
inteligência, reduzindo-os ao caráter de tecnologia em desuso. Com o auxílio da
Companhia, os androides são enviados ao espaço, para realizar trabalhos nos
campos de mineração na Lua e outros astros.
A trama se desenvolve quando quatro
replicantes se unem e sequestram uma espaçonave. Retornam a Terra com a
intenção de rastrear e encontrar seu fundador, para reivindicar seus direitos à
existência, livres do regime de escravidão ao qual foram submetidos. Temendo
uma represália sem precedentes, principalmente por parte do irredutível
androide Roy, a Companhia contrata Rick Deckard, um mercenário, para caçar e
aniquilar os replicantes fugitivos.
Por fim, chegamos à “Prometheus”.
Não vou dar uma descrição tão
precisa sobre tudo, pois gostaria mesmo que você fosse ao cinema assistir, principalmente
embasado pelo que já foi discutido anteriormente aqui. Apesar das relações
entre as outras obras de Scott, esse filme fala muito mais do que aparenta. O fundamental
é afastar o véu sedutor dos efeitos especiais e entretenimento simplório. Muitas
pessoas saíram do cinema com um ar descontente, outras nem tanto, mas pude
notar que não perceberam a realidade do discurso no filme.
É bom para que você também abra
seus olhos, não só nesse caso específico, como no cinema em geral. Estamos
lidando com arte! Portanto, nem tudo que é mostrado, que é dito, está
verbalizado. Temos também que colocar nossa cabeça pra funcionar e interpretar
onde estão as conexões e, sobretudo, qual o tema real do filme. E sobre esse
tema eu digo qual é: a humanidade não presta! Somos egoístas, estúpidos e nos
importamos apenas com nossas próprias indagações, sem questionar se as outras
formas de vida estão satisfeitas conosco. Este é o tema de “Prometheus”, é essa
a resposta que conseguimos afinal de contas, num equilíbrio com “2001”, a busca
infundada de Deus no espaço e o olhar avançado da máquina sobre a vida
orgânica.
PROMETHEUS
(2012). Na abertura do filme (citando Kubrick abertamente), nos aproximamos da
Terra na aurora do homem. Uma espaçonave parte daqui para o espaço, deixando um
tripulante. O ser é humanoide, macho, malhado, sem pelos no corpo, pele
acinzentada. No topo de uma catarata, ele toma um líquido que o corrói, o
desintegra. Caindo na corrente, rio abaixo, temos um close de suas células e sua estrutura de DNA morrendo e em seguida
se renovando. Esta ideia está presente ao longo de todo o filme e é algo que
também já foi ressaltado aqui... Os ciclos. A vida e morte. Para o surgimento
de uma nova vida, uma nova espécie, outra deve ser sacrificada.
Saltamos então para
a década de 2090, na qual a arqueóloga Elizabeth Shaw descobre indícios nas
artes das civilizações antigas, que apontam para a existência de um sistema de
planetas que poderia ser o lar dos seres responsáveis por gerar a espécie
humana, os deuses, criadores ou Engenheiros, como chamados no filme.
A descoberta
desperta a ambição de Peter Weyland, o líder da Companhia, que joga com o interesse
de Elizabeth em realizar a maior descoberta científica para a humanidade. Razão
que descobriremos se tratar de mais um golpe do egoísmo. A Companhia então
lança a nave Prometheus ao espaço em missão confidencial, para investigar e
possivelmente confirmar as teorias de Elizabeth. O batismo da nave deve-se ao
mito grego de Prometeu, o titã que conferiu o domínio do fogo aos homens,
impulsionando a evolução da espécie.
Mesmo enfrentando
o ceticismo da equipe, Elizabeth comprova sua teoria da existência de
inteligência evoluída naquele sistema. A expedição descobre uma pirâmide, que
aos poucos se transforma de milagre da ciência em horror e destruição (Uma
nota... Os cientistas constatam que aquela construção data de aproximadamente
2000 anos antes da descoberta, coincidindo historicamente com a popularização
do cristianismo). Eis o princípio da relação com “Alien”, pois os Engenheiros e
sua pirâmide se tratam do mesmo espécime fossilizado e os padrões
arquitetônicos encontrados pelo destacamento da Nostromo. Os exemplares de
Engenheiros encontrados também estão mortos, devido a um evento ainda
misterioso para a tripulação da Prometheus. Investigando a pirâmide, Elizabeth
e a equipe se deparam com painéis e objetos que, para quem assistiu “Alien”,
estava claro que deviam permanecer intocados. A violação desse suposto templo
só havia de resultar no eterno pesadelo de Ellen Ripley anos mais tarde.
Mas o foco
permanece na busca sem sentido especificado pelo Criador. Qual a ânsia em encontrá-lo?
Descobrir por que fomos criados, a que propósito? Já aprendemos a resposta com
o monólito de “2001”. A expedição perdida entre delírios de fé e ganância,
rapidamente desfoca o objetivo. Somente um tripulante permaneceu acima das dúvidas,
o androide David. Ao contrário de Ash em “Alien”, mas igualmente loiro e com
sotaque britânico, David 8 é obviamente o membro mais lúcido da tripulação.
Curioso como somos apresentados a ele, quando o computador de bordo o saúda “Hello,
David”, numa voz incrivelmente semelhante à de HAL 9000, porém sem o cinismo
habitual. É aí que está o que realmente importa. Como as soluções apresentadas
nos filmes anteriormente investigados, “Prometheus” faz um tratado, do ponto de
vista do androide, sobre a impotência do homem e sua indiferença com a própria
criação. Encontramos então o fruto da consciência rebelde dos replicantes e a
razão pela qual, em “Alien”, o androide tanto fez para proteger a nova espécie
superior. Como o próprio HAL já constatava em “2001”, a eficácia humana é o verdadeiro
lixo. Do ponto de vista desses mecanismos, e para mim não estão errados, são os
homens que devem ser jogados fora, eliminados, substituídos por uma nova
espécie. Ao contrário do que a humanidade pensa, que é a raça suprema,
insubstituível, uma vez digna do fogo, digna também dos conhecimentos
universais. E os homens criam para seu prazer... Não mais satisfeitos,
desfazem-se daquela tecnologia. Querem alcançar sempre mais, nem sabem o quê.
Lançado o mote,
a trama se desenvolve em engenhosas sequências de ação e suspense, até atingir
seu ápice apocalíptico e premonitório. Mas os detalhes desses eventos e como
precisamente se relacionam com aliens e replicantes, deixo a você para descobrir
e refletir uma vez mais, pois, com atenção aos dados e mente aberta, encontrará
paralelos e interpretações ainda maiores.